Eu e você, vamos nos adaptando.
Deitada na minha barriga, podemos dormir duas horas, e durante a tarde.
No primeiro dia ficamos dormindo no ar-condicionado.
No segundo dia, passeamos muito de carro pois você adora e dorme.
No terceiro dia, dormimos, fomos no Parque Guinle e acho que você já entendeu que sou de casa. Você sorri para todos os desconhecidos, no elevador lotado, na rua, no parque, no dentista. Adora gente que não conhece. Depois que fica íntima, chora um pouco, pega logo intimidade. Não gosta de ficar em casa vendo móbiles. Prefere a calçada, onde passam caminhões, carros, bicicletas, pessoas e britadeiras. Acha mais animado.
É claro que as pessoas mudam. Os bebês principalmente.
Mas por enquanto você é assim, de uma simpatia que acorda todos os sonâmbulos do elevador e faz todo mundo rir em conjunto.
Adorou me ver na cadeira do dentista, fazendo tratamento de canal.
Achou muito interessante o "aviãozinho", a máscara do dentista, a luz na minha cara, e ouvir meus ais.
Gosta de ver as imagens das revistas coloridas, olha com muita atenção.
Está fazendo um esforço enorme para esticar a mãozinha e pegar alguma coisa.
Pra colocar na boca futuramente, com certeza.
Ainda não consegue nada disso, mas tem se esforçado.
Estamos nos dando bem. Adoro passear também e temos dois amiguinhos: Chaiane (17) e Igor (10). E ainda a cachorrinha Mafalda, que já entendeu que não pode lamber seu pé. Comeu tua chupeta outro dia e eu tive que comprar outra.
Aliás, você não se entendeu bem com a chupeta por enquanto.
São coisas bobas, pequenas, simples, mas destes pequenos gestos cotidianos em breve surgirá uma garotinha, aparentemente voluntariosa.
Para soltar um mero pum,você dá gritos de terror e treme os lábios pequenos. E se a mamadeira, que você quase nao toma e que não aprecia muito, não está na temperatura correta, mais berros terríveis.
No mais, você é uma simpatia.
Por sua causa, estou me integrando com a vizinhança.
Relutei, mas não houve jeito.
Você sorri para todo mundo, inclusive para roupas, janelas, mochilas, cartazes, enfim, tudo que é colorido ou balança.
E não sabe direito de onde vêm as vozes.
Às vezes me esforço pra fazer uma gracinha e você sorri feliz para o móbile. Deve achar que é ele que está falando contigo. Aos poucos você aprenderá.
Estamos todos muito felizes com você.
Outro dia me peguei no clube no meio de sete pessoas, todas debruçadas sobre o teu carrinho fazendo bilu-bilus.
Adoro crianças.
Elas nos recordam que na vida não existem só jornais nacionais, guerras, desencontros, desamores e praias poluídas.
O olhar dos transeuntes para os bebês e para os cachorros é um sintoma que o mundo ainda não está totalmente perdido.
Existe em cada um de nós uma saudade da inocência.
Uma vez perdida, não se recupera jamais.
Apenas para os privilegiados que convivem com crianças,
a vida pode ser cheia de bilu-bilus.
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