Houve uma mudança no tempo.
Antes, o intervalo entre estar disponível e desejado na vitrine e exposto como curiosidade num museu era imenso.
Hoje não sabemos. O tempo de vida dos objetos é cada vez menor, enquanto a nossa expectativa de vida cresce assustadoramente.
Isso quer dizer que tivemos que aumentar a nossa capacidade de lidar com o novo, e com o desapego.
Um desvio, creio.
Na ânsia de criar ininterruptas necessidades, os objetos se confundiram.
O gravador de bolso conecta-se à internet, o celular tira fotos, a máquina fotográfica filma.
Há pessoas que almejam assimilar tudo isto, entender todas as linguagens. Já existe, inclusive, nos Estados Unidos, que são precursores em síndromes, uma doença disso.
Outras teimam em negar tudo. Outro dia perguntei a um amigo se ele tinha e-mail e ele riu e disse que não usa relógio.
Somos livres para necessitar.
Eu mesma, por exemplo, neste momento estou sem televisão. Possuo o aparelho, mas ele não tem mais fios, exceto os do DVD. Muita gente me olha de soslaio por isso.
Comecei a escrever um diário para minha neta, queria deixar um registro escrito com caneta de tinta, num caderno, com páginas de papel, a forma mais segura de se guardar textos. Eis que o caderno não anda e já escrevo em dois blogs para que ela leia no futuro.
Ainda não sabemos quanto tempo viverá a web. Uma rede pode se esgarçar no rompimento de um único fio. Desejo-lhe vida longa, mas me precavejo.
Afinal, aos cinquenta e quatro anos, dirijo-me a uma pessoinha de três meses.
Nenen, temos que estar preparadas para tudo: para ter um anel no dedo mindinho que será relógio, GPS, internet, gravador, filmadora, cartão do banco, ipod, ipad, e meio de transporte. Ou um chip no cu.
E se o sistema entrar em pane, aqueceremos nosso rango num fogão à lenha, caminharemos muito, saberemos a quantas anda o passar do dia pelo trajeto do sol, e quando quisermos ouvir música, teremos que cantar nós mesmas.
É tudo uma questão de hábito.
Já disseram que o computador surgiu para resolver problemas que antes não existiam, e que o capitalismo cria necessidades, em vez de satisfazê-las.
Nós procuramos dosar o uso. Confesso que, mesmo de televisão desligada, comprei um laptop, que agora se chama notebook, porque as coisas também mudam de nome.
E você, até agora, não precisa se preocupar. Seu objetivo tem sido tentar, com afinco, morder o próprio pé. Tenta com seriedade, mas não consegue muita coisa.
Por enquanto, deixa a internet pra lá.
Quem sabe no futuro os computadores serão coisas "do tempo da vovó"?
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